FERRAMENTAS FILOSÓFICAS

Ferramentas para filosofar - desculpe - em construção- 

   Filosofia não tem uma definição única, mas é uma atividade técnica e complexa. Kant acreditava que se pode ensinar filosofia, pois exige termos e procedimentos que desafiam até os mais experientes. Assim como em outras profissões, como música ou medicina, a filosofia precisa de ferramentas e conhecimentos específicos. Ela é para quem se preocupa com os detalhes, já que trata das questões mais profundas da humanidade. Filósofos analisam argumentos com cuidado para distinguir os bons dos ruins, e é essa minúcia que torna a filosofia uma prática essencial.
    Nesta página procuro apresentar algumas destas ferramentas extraídas de: BAGGINI, Julian; FOSL, Peter S. As ferramentas dos filósofos: um compêndio sobre conceitos e métodos filosóficos. Tradução Luciana Pudenzi. São Paulo: Loyola, 2008.

A razão  e a filosofia 
    A ciência faz testes e experimentos para entender o mundo. A religião se baseia na fé e no sagrado. A filosofia caminha entre as duas: não faz experimentos como a ciência, nem depende só da fé como a religião. Alguns filósofos, como Nietzsche e Kierkegaard, criticam a razão, mas ainda assim apresentam ideias justificadas. Toda filosofia envolve pensar, questionar e argumentar. Para entendê-la de verdade, é preciso aprender a usar a razão. E tudo começa com o básico: a dedução.
 
Dedução 

A dedução é o tipo de raciocínio típico dos mistérios de detetive: se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também será. Por exemplo:

  1. Elvis vive escondido em Idaho.
  2. Todos que vivem escondidos em Idaho são infelizes.
  3. Logo, Elvis é infeliz.

Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também será. Mas, se forem falsas, a dedução continua válida, só não reflete a realidade. Muitos erros acontecem por não se analisar bem as premissas. A dedução não é um salto para a resposta, mas um caminho lento e cuidadoso até ela.


 Indução 

Definindo a indução 

A indução é um tipo de raciocínio que parte de observações limitadas para chegar a conclusões prováveis. Um exemplo clássico é o nascer do sol: como ele sempre nasceu no passado, supomos que nascerá amanhã. Esse tipo de inferência é chamado de "generalização indutiva". Mas a indução não se limita a ir do específico para o geral. Ela também pode ir do passado para o passado, do geral para o específico ou até do geral para o geral. Se nunca houve registro de alguém correndo 100 metros em menos de 9 segundos, posso concluir que meu amigo provavelmente também não conseguiu, mesmo que ele diga o contrário. Analogias e experiências passadas também são formas de indução, mesmo sem generalizações diretas.


O problema da indução 

As generalizações indutivas são a base da ciência experimental, ajudando os cientistas a formular leis com poucas observações. Mas elas têm um problema: partem de "alguns" casos para tentar dizer algo sobre "todos". Isso não acontece na dedução, onde a conclusão precisa seguir com certeza das premissas.

Veja este exemplo:

A (Indução):

  1. Alguns elefantes gostam de chocolate.
  2. Isto é um elefante.
  3. Logo, este elefante gosta de chocolate (provavelmente).

A conclusão pode estar errada, mas ainda assim faz sentido como indução.

Agora, veja um argumento dedutivo:

B (Dedução):

  1. Todos os elefantes gostam de chocolate.
  2. Isto é um elefante.
  3. Logo, este elefante gosta de chocolate (com certeza).

A indução pode ser útil, mas nunca é 100% certa. Esse é o famoso "problema da indução": algo pode fazer sentido indutivamente, mas ser fraco em termos dedutivos. É preciso cuidado para não confundir essas duas formas de pensar.

Tautologias 
Isso não significa dizer que as tautologias não possuem valor filosófico. Entender as tautologias nos ajuda a entender a natureza e a função da razão e da linguagem. 

Dialética 

A dialética é como uma conversa onde as ideias vão se ajeitando com o tempo. Aqui está o processo, em etapas simples:

  1. Alguém começa com uma ideia ou opinião.
  2. Outra pessoa diz: "Hum, acho que isso tem algo errado", e aponta o que pode não fazer sentido.
  3. A primeira pessoa tenta explicar melhor sua ideia ou mudar um pouco para resolver as críticas.
  4. A segunda pessoa responde, testando se a nova explicação faz sentido.
  5. No fim, as duas partes, de tanto conversar e ajustar, chegam a uma ideia mais clara e precisa. 

É como um jogo de palavras que, no final, faz todo mundo pensar melhor e chegar a respostas mais completas.

Experimentos mentais 

Os experimentos mentais são como brincadeiras para a mente. Você pensa em algo que não pode acontecer de verdade, mas usa isso para entender algo importante. Vamos ver como funciona:

  1. Imagine uma situação maluca ou impossível, algo que você nunca viu acontecer na realidade.
  2. Então, você começa a pensar no que aconteceria se isso fosse verdade.
  3. Usando essa imaginação, você tenta tirar conclusões sobre o que realmente é importante ou o que faz sentido na vida real.

Esses experimentos ajudam a gente a entender ideias difíceis, como um jogo que a mente faz para testar o que sabemos ou acreditamos.

Imagina que a vida é como um livro e cada decisão que você toma cria um novo capítulo. Mundos possíveis são esses outros capítulos, onde as coisas podem ser completamente diferentes. Talvez você tenha escolhido sair com os amigos, mas e se tivesse ficado em casa? E se tivesse feito aquela viagem, ou falado com aquela pessoa? Esses mundos são como versões alternativas da sua vida, onde tudo poderia ser diferente, mas você só vai saber se imaginar.

Já a Terra gêmea é como um planeta paralelo, quase idêntico ao nosso, mas com algumas pequenas mudanças. Tipo, aqui você mora em uma cidade, mas na Terra gêmea, sua cidade pode ser um pouco diferente ou as pessoas podem ter feito escolhas diferentes. É o mesmo mundo, mas com um “quê” a mais ou a menos.

Essas ideias ajudam a pensar sobre como as escolhas de agora podem moldar o futuro e como pequenas mudanças poderiam ter feito tudo ser de outro jeito.

Argumentos transcendentais 
Definição 
Erros categoriais 
Exemplos: a mente e a vontade 
Ceteris paribus 
Contraexemplos 
Petição de princípio 
Sintaxe/semântica 
Sentido/referência 
Razão suficiente 
A raiz quádrupla do princípio de razão suficiente de Schopenhauer 
1. Razão suficiente para tomar-se;
    Mesmo que alguém não queira se tornar um filósofo, todo mundo aceita que em todas as áreas, para alguém ser um bom profissional, o trabalhador precisa ser capaz de pensar e se expressar de maneira clara e, uma vez que estudar Filosofia exige apreender a pensar e a se expressar de maneira clara, então, disso se segue logicamente que, quem estuda Filosofia, apreende algo indispensável para todas as áreas profissionais.

Os filósofos usam o termo "argumento" num sentido muito preciso e estrito. Para eles, um argumento é a mais básica unidade completa do raciocínio, um átomo da razão. Um argumento é uma inferência extraída de um ou de vários pontos de partida (proposições denominadas "premissas") que conduz a um ponto final (uma proposição denominada "conclusão").

Os "argumentos" devem ser distinguidos das "explicações". Uma regra geral é que os argumentos buscam demonstrar que algo é verdadeiro; as explicações buscam mostrar como algo é verdadeiro. Por exemplo, suponhamos que nos deparamos com uma mulher aparentemente morta. Uma explicação da morte dessa mulher seria efetuada para mostrar como ela se deu ("A existência de água em seus pulmões explica a morte desta mulher."). Um argumento teria corno objetivo demonstrar que a pessoa está de fato morta ("Como seu coração parou de bater e não há outros sinais vitais, podemos concluir que ela está realmente morta.") ou que uma explicação é melhor que outra ("A ausência de sangramento no ferimento em sua cabeça, associada à presença de água nos pulmões, indica que essa mulher morreu por afogamento e não por hemorragia.").

Não se compreende universalmente que grande parte dos temas tratados pela filosofia consista em argumentação. Muitas pessoas julgam que a filosofia trata essencialmente de ideias ou teorias acerca da natureza do mundo e de nosso lugar nele. Os filósofos efetivamente produzem tais ideias e teorias, mas, na maioria dos casos, sua autoridade e seu campo de ação procedem do fato de serem derivadas por meio de argumentos racionais fundados em premissas aceitáveis. Sem dúvida, muitas outras áreas da vida humana também envolvem comumente a argumentação, e algumas vezes pode ser impossível definir linhas precisas que distingam essas áreas da filosofia. (De fato, a possibilidade de estabelecer ou não tal distinção é em si mesma objeto de acalorados debates filosóficos!) As ciências naturais e sociais são, por exemplo, campos de investigação racional que com frequência invadem as fronteiras da filosofia ( especialmente em estudos da consciência, na física teórica e na antropologia).

     Para a maioria de nós, a ideia de uma conclusão é tão clara quanto pode ser um conceito filosófico. Uma conclusão é, literalmente, aquilo com que se conclui um argumento, o produto e o resultado de urna cadeia de inferências, aquilo que o raciocínio justifica e sustenta. E quanto às premissas? Em primeiro lugar, para que uma sentença sirva como premissa, é preciso que exiba esta propriedade essencial: que faça uma afirmação que possa ser considerada verdadeira ou falsa. As sentenças têm muitas funções em nossa linguagem, e nem todas possuem tal propriedade. Sentenças que exprimem ordens, por exemplo ("Em frente, soldado, marche!"), ou que representam perguntas ("Esta é a estrada para Edimburgo?"), ou que denotam exclamações ("Santo Deus!") não são nem verdadeiras nem falsas. Por conseguinte, não é possível empregá-las como premissas. Até aqui, tudo é muito simples. Mas as coisas podem ficar complicadas de diversas maneiras. Uma das mais complexas questões concernentes às premissas está no problema das proposições implícitas. Isto é, em muitos argumentos, premissas capitais não estão explicitamente enunciadas, mas permanecem embutidas ou ocultas em outras sentenças. Tomemos, por exemplo, o seguinte argumento: "Sócrates é um homem; logo, Sócrates é mortal". O que ficou implícito foi a sentença "Todos os homens são mortais". Ao determinar precisamente quais as premissas de um dado argumento, pergunte-se, em primeiro lugar, o que o argumento pretende demonstrar. Em seguida, pergunte-se em que outras afirmações o argumento se funda (implícita ou explicitamente) para produzir tal demonstração.

    Às vezes, certas palavras e expressões indicarão premissas e conclusões. Expressões tais corno "em conclusão", "segue-se que", "temos de concluir que" e "a partir disso, podemos ver que" com frequência indicam conclusões ("O DNA, as impressões digitais e os relatos das testemunhas oculares, tudo aponta para Smithers. Segue-se que ela deve ser a assassina."). Palavras como "porque" e "desde" e expressões como "em razão de que", "urna vez que" e "com base em" com frequência indicam premissas (por exemplo: "Urna vez que o DNA, as impressões digitais e os relatos das testemunhas oculares implicam Smithers, ela deve ser a assassina".). As premissas, portanto, compõem o conjunto de asserções das quais se extrai a conclusão. Em outras seções, abordaremos a questão de como podemos justificar a passagem das premissas à conclusão. Mas, antes de tudo, temos de indagar: o que justifica a introdução de uma premissa?

    O assassinato foi claramente premeditado. A única pessoa que sabia onde o Dr. Cordeiro estaria naquela noite era seu colega, o Dr. Lobo. Por conseguinte, o assassino tem de ser ...

Eu (Julian Baggini) tenho algo a confessar. Certa vez, passando férias em Roma, visitei a famosa feira de Porta Portese. Passei por um homem que aceitava apostas de quem quisesse adivinhar qual dos três copos que embaralhara ocultava um dado. Pouparei os leitores dos detalhes e de qualquer tentativa de justificar minhas ações para atenuar as coisas. Basta dizer que apostei e perdi. Tendo um orçamento tão cuidadoso, a parcela destinada à pizza naquela noite foi-se como fumaça. Minha tolice neste caso é completamente evidente. Mas pode-se dizer que minha decisão de arriscar era "ilógica"? A resposta a esta pergunta exige um embate com uma dimensão da lógica denominada "indução". Diferentemente das inferências dedutivas, a indução envolve uma inferência na qual a conclusão deriva das premissas não com caráter de necessidade, mas apenas com probabilidade (ainda que esta formulação seja problemática, como veremos).

As tautologias são sentenças necessariamente verdadeiras. Na conversação comum, "tautologia" é um termo pejorativo usado para depreciar uma asserção que pretende ser informativa mas na verdade meramente repete o significado de algo que já se sabe. Por exemplo, consideremos: "Um criminoso infringiu a lei". Esta declaração poderia ser depreciada como tautologia, pois não nos diz nada sobre o criminoso ao dizer que infringiu a lei. Ser um infrator é precisamente o que é ser um criminoso. Na lógica, porém, "tautologia" tem um sentido mais precisamente definido. Uma tautologia é um enunciado que será verdadeiro em qualquer circunstância - ou, como dizem alguns, em todo mundo possível. As tautologias são verdades "necessárias". Tornemos o seguinte exemplo: P ou não-P Se P for verdadeiro, o enunciado será verdadeiro. Mas, se P for Falso, o enunciado ainda assim será verdadeiro. Este é o caso para qualquer sentença que substitua P: "Hoje é segunda-feira", "Os átomos são invisíveis" ou "Os macacos fazem ótimas lasanhas". Pode-se entender então por que as tautologias são tratadas com tão pouca deferência. Um enunciado que é verdadeiro a despeito da verdade ou da falsidade de seus componentes pode ser considerado nulo, uma vez que seu conteúdo não produz nenhum efeito.

A lei de não contradição 

Além disso, a lei de não contradição - a pedra angular da lógica filosófica - é também urna tautologia. A lei pode ser formulada da seguinte maneira: Não (P e não-P) A lei é urna tautologia, já que, sendo P verdadeiro ou falso, a proposição será verdadeira. A lei de não contradição dificilmente pode ser acusada de não ser informativa, uma vez que constitui o alicerce sobre o qual toda a lógica está edificada. Mas, com efeito, a própria lei em si não é tão informativa quanto as tentativas de refutá-la. As tentativas de refutar a lei de não contradição são em si mesmas contradições, e são obviamente e em todas as circunstâncias errôneas. Uma contradição ofende a lei de não contradição, pois ser apanhado em contradição é ser apanhado afirmando que algo é verdadeiro e falso ao mesmo tempo -afirmando P e não-P. Como a lei de não contradição é urna tautologia, e, desse modo, verdadeira em todas as circunstâncias, não pode haver nada mais claramente falso do que algo que tenta refutá-la. O princípio de não contradição tam bérn foi historicamente importante na filosofia. O princípio corrobora antigas análises sobre a mudança e a pluralidade, e é crucial na proclamação feita por Parrnênides de Eleia no século VI a.C.: "o que é é e não pode não ser". Também é central para considerações de identidade -por exemplo, na afirmação de Leibniz de que os objetos que são idênticos devem ter todos as mesmas propriedades. 

Bivalência e o terceiro excluído 

Um dos júbilos e uma das frustrações da filosofia é que, não importa há quanto tempo ela seja empreendida, não se pode evitar retornar a seus fundamentos. Isso é particularmente notável na lógica, na qual as proposições mais básicas formam os fundamentos de todos os desenvolvimentos mais complexos, e, por conseguinte, têm de ser regularmente inspecionadas para se verificar se ainda têm validade. O princípio do terceiro excluído proporciona um exemplo claro disso. O princípio pode ser formulado da seguinte forma: 
Para todo enunciado P, P é verdadeiro ou não-P é verdadeiro. 
Por exemplo, se dizemos "Fred está morto", então "Fred está morto" ou "Fred não está morto" é um enunciado verdadeiro. Esse princípio é implicado por um princípio ainda mais fundamental, o princípio da bivalência, que determina que: Todo enunciado é verdadeiro ou falso, e não há outra alternativa. 
No caso de nosso exemplo, isso significa que o enunciado "Fred está morto" é verdadeiro ou falso - não há meio-termo. Os princípios de bivalência e do terceiro excluído não são equivalentes, uma vez que este último envolve o conceito de negação ("não"), enquanto o primeiro não o inclui. Mas o princípio do terceiro excluído é implicado pelo princípio da bivalência, e há uma estreita relação entre ambos. 

Simples demais? 

O princípio da bivalência desempenha um papel fundamental na lógica. No entanto, sofreu contínuos ataques por parte de críticos que argumentam que é demasiado simplista afirmar que tudo tem de ser verdadeiro ou falso. Certamente, algumas coisas são parcialmente verdadeiras e parcialmente falsas. Encaixar tudo à força no molde da bivalência distorce seriamente o mundo. O problema é mais grave no caso dos conceitos vagos. Tomemos, por exemplo, a ideia de magreza. Para muitas pessoas, não parece claramente verdadeiro nem falso que as pessoas são magras ou não-magras. Preferimos dizer que as pessoas são realmente magras, ou um pouco magras. Nós não julgamos que existem três categorias de pessoas: magras, obesas e médias, e que todos se encaixam precisamente numa dessas categorias. Em lugar disso, a magreza e a obesidade são dois extremos de um espectro, com muitos matizes de cinza entre ambos. A plausibilidade dessa visão é explicitada no paradoxo de Sorites. Adaptando-o ao nosso exemplo, o paradoxo se produziria se considerássemos uma pessoa obesa. Podemos indagar se essa pessoa, após perder l grama de seu peso, ainda seria obesa. A resposta é, obviamente, sim -alguém não passa de obeso para não-obeso pela diferença de 1 grama. Agora, podemos indagar se essa pessoa, que já está 1 grama mais leve, 
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após perder mais 1 grama, deixaria de ser obesa. Novamente, parece absurdo dizer que, tomando-se duas pessoas que têm apenas 1 grama de diferença de peso, uma é obesa e a outra não. Contudo, se prosseguirmos nesta linha de raciocínio, terminaremos com uma pessoa de 40 quilos, por exemplo, que ainda teríamos de qualificar como obesa. Aparentemente, uma das duas maneiras de resolver isso seria, em primeiro lugar, afirmar que há, de fato, uma fronteira definida entre obeso e não-obeso, por mais absurdo que possa parecer. Isso nos possibilitaria preservar o princípio da bivalência. A outra alternativa seria afirmar que "obeso" é um conceito vago, e que, com frequência, não é nitidamente verdadeiro que uma pessoa é obesa ou não é obesa. Isso, porém, contradiz o princípio da bivalência. 

Segundo o Sócrates de Platão (Apologia 38a), a vida da análise filosófica é a melhor vida, e, mais ainda, a vida não examinada não vale ser vivida.
Grande parte da investigação filosófica adotou a forma da "dialética" (dialektiké). É um tipo de pensamento que surge repetidamente na história da filosofia. Mas o que é exatamente a dialética e como é aplicada? De maneira muito simplificada, o pensamento dialético é uma espécie de diálogo filosófico -um processo de ir e vir entre dois ou mais pontos de vista. Há várias maneiras de formular esse processo. Uma delas pode ser a seguinte:

l. Uma das partes propõe uma asserção.





Você pode ver, então, que o pensamento dialético envolve um "outro" e um tipo de oposição ou contestação entre os vários argumentadores envolvidos no processo. Esse tipo de oposição é com frequência considerado o "momento negativo.
Hegel, com efeito, foi equivocadamente associado com o modelo talvez mais conhecido de dialética. Segundo esse modelo, parte-se de urna "tese" contra a qual se opõe uma "antítese". O resultado de sua confrontação é uma "síntese" que supera e resolve o aparente conflito entre tese e antítese num movimento superior transcendente denominado "superação" (Aufhehung), resultando numa condição que é aufgehoben ou, literalmente, "lançado para cima".
O problema é que Hegel não usou realmente esse modelo. Ele via a história como um processo caracterizado pela oposição de momentos negativos assim como momentos aufgehoben de progresso, mas não formalizou o processo em termos de teses e antíteses. Foi na verdade o poeta Johann Christoph Friedrich von Schiller (1759-1805) quem desenvolveu esse modelo; e outro influente filósofo, Jacob Gottlieb Fichte (1762-1814), foi quem o desenvolveu com vigor.

Há uma longa briga na filosofia entre aqueles que julgam que há uma importante continuidade entre a filosofia e as ciências e aqueles que julgam que a filosofia é uma forma de investigação muito diferente. Quando a divisão é assim formulada, é fácil supor que, de um lado, temos os filósofos austeros, enfadonhos e científicos, e, de outro lado, os filósofos artísticos, criativos e poetas. Mas, na verdade, fez-se muito uso, em ambos os lados, de um curioso híbrido científico-literário: os experimentos mentais. Os filósofos usam ficções nas analogias (2.4) e nas bombas de intuição (2.6), mas talvez seu uso mais notável consista nos experimentos mentais (também conhecidos como experimentos Gedanken). Esta denominação é perfeitamente adequada, pois o propósito dos experimentos mentais é reproduzir o método dos experimentos científicos, porém apenas no pensamento.

É útil começar indagando o que ocorre num experimento científico padrão. Imaginemos um experimento que busca descobrir como se dá o branqueamento produzido pelo sabão em pó. No uso normal, há diversos fatores que podem fazer que o sabão em pó funcione de uma determinada maneira. Esses fatores incluem seus ingredientes ativos, a qualidade e a temperatura da água na qual os ingredientes são dissolvidos, os materiais a ser lavados e a máquina usada para a lavagem, caso haja uma. Qualquer experimento que pretendesse descobrir o que causa o branqueamento teria de ser projetado de modo a garantir que os fatores cruciais fossem adequadamente isolados das outras variáveis. Assim, por exemplo, se a hipótese é a de que o cloro é o agente branqueador, o experimento tem de mostrar que se todos os outros fatores permanecerem iguais, a presença ou a ausência do cloro determinará se o sabão em pó tem efeito branqueador.
Dizendo de modo mais simples, o objetivo de um experimento científico é isolar as variáveis cruciais - os fatores que, caso estejam presentes, causam um determinado efeito que não ocorreria em sua ausência e que ocorre em sua presença. Os experimentos mentais se baseiam no mesmo princípio. A diferença é que as variáveis testadas num experimento mental não precisam ou não podem, por alguma razão, ser efetivamente isoladas. Portanto, as variáveis são alteradas somente na imaginação.

Alguns exemplos de experimentos mentais que se afiguram mais extravagantes envolvem os "mundos possíveis". Talvez o mais conhecido argumento que invoca um mundo possível seja o de Hilaiy Putnam (1926) sobre sentido e referência. Putnam nos pede que imaginemos um mundo possível ao qual ele chama de "Terra Gêmea". Na Terra gêmea, tudo é exatamente igual a como é na Terra. Há seres humanos que comem, bebem, ouvem Britney Spears e, ocasionalmente, matam-se uns aos outros (não que estes dois últimos fatos estejam de algum modo conectados). Mas há uma única diferença: aquilo que os habitantes da Terra gêmea chamam de "água'' não é H, O, mas outro composto químico complexo, que podemos denominar XYZ. Alguns dizem que, se algo parece um pato, anda como um pato e emite o som de um pato, então é um pato. Mas Putnam argumenta que, de nossa perspectiva, o que quer que seja a substância XYZ, não é água. O que chamamos de água é o composto H20, e a substância XYZ não é H20. Por conseguinte, embora a Terra e a Terra gêmea possam ter líquidos transparentes e refrescantes, que podem ser ambos chamados de água e funcionar como água, a água da Terra gêmea simplesmente não é água. Só porque tem o mesmo nome, não significa que é a mesma coisa.
O argumento de Putnam é intrigante e poderia ser discutido com muito mais profundidade. Mas nosso interesse aqui é simplesmente examinar como a ideia de mundo possível é usada num argumento. O experimento mental altera urna variável no mundo real - modificando-a de  modo que o composto químico que funciona como água não é H20 -e verifica quais as consequências disso para o significado da palavra "água". Os cientistas também empregam experimentos mentais. Einstein, por exemplo, usou-os ao formular sua teoria da relatividade. A diferença entre os experimentos mentais na ciência e na filosofia, todavia, é que os experimentos mentais da ciência com frequência conduzem à experimentação fisica. Para os filósofos, porém, a experimentação fisica é, na maioria dos casos, desnecessária, pois o que está sendo explorado não é o terreno do universo material, mas o universo conceituai. Refletir com base na.5 pistas de nossa imaginação é com frequência suficiente ao se lidar com conceitos. Alguns autores argumentaram que os experimentos mentais não fazem muito mais que testar nossas intuições, e que este não é um método confiável para se fazer filosofia. Mas a despeito dessas dúvidas acerca da confiabilidade dos experimentos mentais corno ferramenta argumentativa, eles continuam a nos fascinar e envolver de um modo que poucas outras formas de argumentação filosófica podem fazê-lo.

Há urna figura que está sempre obstinadamente reaparecendo ao longo de toda a história da filosofia. Não importa o que se faça, simples mente parece impossível mantê-la afastada. No banquete filosófico, este personagem é o cético. O cético é como a criança teimosa que fica repetindo: "Mas como você sabe?" ou (mais precocemente) "Como você pode ter certeza?". Você pensa que as outras pessoas têm pensamentos, mas como pode ter certeza de que não são apenas robôs se comportando como se tivessem pensamentos? Você pensa que uma maçã existe independentemente da pessoa que a percebe, mas como você pode ter certeza de que existe algo além daquilo que percebemos da maçã -seu sabo1; seu cheiro, sua cor e seus sons próprios? Você pensa que há uma única verdade, mas como pode ter certeza de que não há uma variedade de "verdades"? Pode ser muito difícil e árduo -se não impossível -refutar todo esse inexorável ceticismo. Uma estratégia empregada contra a objeção cética é o argumento transcendental. Apesar do nome, esse tipo de argumento não tem nenhuma relação com a religião oriental nem com a meditação. É, na verdade, um frio e sóbrio procedimento analítico usado mais notavelmente por Kant.
Kant estava profundamente atormentado com o ceticismo, e a ameaça que viu nos escritos de Hume despertou-o de seu "sono dogmático". Para responder aos céticos, ele argumentou usando o seguinte procedimento: l. O que quer que o cético diga, é fato que ternos determinadas experiências. 2. Dado que ternos essas experiências, devemos indagar o que seria preciso para tornar possíveis essas experiências. Esta é a essência mais simples de todo argumento transcendental: ele parte daquilo que está dado na experiência e, com base nisso, argumenta o que teria de ser verdadeiro para tornar possível essa experiência. O argumento transcendental, portanto, tenta contornar o ceticismo fazendo de suas premissas iniciais meros fatos da experiência -não faz afirmações sobre a natureza dessas experiências, se são causadas por uma realidade independente e assim por diante. Se o argumento transcendental é bem-sucedido, os questionamentos céticos do tipo "corno você pode ter certeza?" são evitados ou considerados despropositados.

Ocasionalmente, surge uma ferramenta filosófica plenamente formada, completa, com vívidos exemplos e explicações acerca de seu uso e sua natureza. É o caso do erro categorial, introduzido por Gilbert Ryle (1900-76) em seu clássico The Concept of Mind (1949). O primeiro capítulo do livro é a primeira palavra - e, com frequência, a última - a respeito do erro categorial. Ryle oferece alguns vívidos exemplos para ilustrar o significado de um erro categorial. Um deles é o de um turista estrangeiro a quem se mostram todas as faculdades, bibliotecas e outros edifícios da Oxford University, mas que então pergunta: "Mas onde está a universidade?" Seu erro foi pensar que a própria universidade era um edifício, como a biblioteca e as faculdades, em lugar da instituição à qual estas pertencem. Em outro exemplo, o autor fala de um campeonato de críquete no qual os jogadores e suas funções são descritos a outra estrangeira desafortunada. "Eu não entendo a função do espirito de corps'', diz ela. Seu erro é pensar que o espírito de equipe é uma função específica no jogo, e não uma maneira como funções específicas são desempenhadas. Em ambos os exemplos, o estrangeiro cometeu o engano de pensar num certo tipo de coisa da maneira errada. A universidade foi erroneamente categorizada pelo estrangeiro como um edifício, enquanto é na verdade uma instituição. A atitude de contribuir para o espírito de equipe foi erroneamente categorizada como um tipo específico de ação, e não como uma maneira de desempenhar uma tarefa ou uma série de ações.
Ryle acreditava que um erro categorial estava no cerne de uma confusão acerca da natureza da mente. Em sua opinião, o erro cometido por Descartes e incontáveis pensadores depois dele foi pensar na mente como se ela fosse um tipo de objeto, como um cérebro, uma mesa ou uma flor. Como esse objeto claramente não era material, da forma como o são os cérebros, as mesas e as flores, presumiu-se que tinha de ser um tipo especial de objeto, algum tipo de substância espiritual. Segundo Ryle, isso é um erro. A mente não é de modo algum um objeto, mas sim um conjunto de capacidades e disposições, todas as quais podem ser descritas sem nenhuma referência a substâncias espirituais. Supostos erros categoriais pululam por todos os lados na filosofia. Ryle também falou sobre "a vontade". Ele argumentou que era um erro pensar na vontade como se fosse uma parte distinta de nós mesmos, uma espécie de centro de decisões no qual disjuntores seriam ativados ou desativados conforme escolhêssemos algo ou não. A vontade não é uma coisa, nem mesmo urna faculdade, mas urna denominação abreviada para a maneira como um curso de ação é empreendido. Nós agimos de acordo com nossa vontade ou contra ela dependendo de se resistimos ou concordamos com o ato em questão, e não dependendo de se alguma parte de nós é, de uma maneira ou de outra, favorável ou contrária a uma decisão. Uma coisa para se ter em mente é que qualificar algo corno erro categorial significa afirmar que o ponto em discussão foi erroneamente categorizado. Naturalmente, ocorre com maior frequência que não se saiba com clareza se houve um erro ou não. Consequentemente, temos disputas categoriais. Por exemplo, o bem é algo simples e indefinível ou pode ser analisado com base em outras propriedades tais corno felicidade, ausência de dor e assim por diante? Esta é urna questão a respeito de se o bem deve ser definido como uma propriedade simples e indefinível ou como uma propriedade complexa e definível. Afirmar que um dos lados da disputa cometeu um erro categorial significa simplesmente afirmar que você acredita que seus defensores efetuaram uma categorização errada no que se refere a algo. Mas, para fazer isso, é preciso, evidentemente, demonstrar que isso de fato ocorre; caso contrário, o máximo que você pode fazer é afirmar estar de um determinado lado de uma disputa categorial, e não que efetivamente se cometeu um erro categorial. Do fato de que um estrangeiro confundiu a "universidade" com um edifício não se segue que a mente seja um conjunto de disposições.

Estas duas pequenas palavras podem lhe evitar muitos problemas. Elas também lhe servirão corno uma ferramenta conceituai muito útil. Elas têm apenas o significado técnico "todas as demais coisas permanecendo inalteradas", mas sua importância é imensa. Tomemos, por exemplo, um simples experimento mental. Seu cérebro será transplantado para outro corpo, levando consigo todos os seus pensamentos, suas memórias, sua personalidade etc. Chamaremos a pessoa resultante de "Seu cérebro". Enquanto isso, seu corpo receberá 0 cérebro de outra pessoa, e chamaremos a pessoa resultante desse transplante de "Seu corpo". Antes da realização da operação, foi solicitado que você transferisse todas as suas contas bancárias, escrituras de imóveis etc. para Seu corpo ou para Seu cérebro. Assumindo-se que você esteja agindo em seu próprio interesse, que pessoa você escolheria? Um filósofo experiente provavelmente assumiria que esse experimento mental contém urna cláusula ceteris paribus implícita. Ou seja, assume-se que, com exceção das alterações ligadas especificamente ao transplante, todas as outras coisas permanecem inalteradas. Por exemplo, não há diferença entre a saúde ou o gênero dos corpos envolvidos, um não é mais feio que o outro, uma das pessoas não está fugindo da polícia, etc. Esta cláusula ceteris paribus é muito importante, pois o propósito do experimento mental é concentrar a mente no significado relativo de nossos corpos e de nossos cérebros para fazer que sejamos os indivíduos que somos. Por essa razão, esses fatores necessitam ser isolados de todas as outras variáveis. Então, incluindo a declaração ceteris paribus, o inventor do experimento mental pode eliminar da consideração qualquer outro fator que não seja relevante para aquilo que pretende considerar.

No dia a dia, com frequência nos perguntamos se fizemos a coisa certa. Foi certo dizer à minha mãe que nunca bebo, ou foi apenas uma mentirinha sem importância? Foi certo ter bebido todos aqueles drinques, ou eu me diverti tanto que valeu a pena ter acordado toda a vizinhança? Ao fazer filosofia, não estamos preocupados apenas com casos particulares como estes. Nosso objetivo é descobrir verdades mais gerais, tais como se, em alguma circunstância, pode ser certo mentir, ou mesmo entender o que significa dizer que um ato seja "certo" ou errado''. Essa generalidade é aquilo que distingue as questões filosóficas da maioria das questões rotineiras. As respostas filosóficas oferecidas usualmente envolvem generalizações e universais, que são asserções que supostamente se aplicam a todas as circunstâncias, por exemplo à mentira em todas as circunstâncias, e não apenas àquela na qual você mentiu para sua mãe sobre ter bebido. Mas precisamente por se esperar que essas respostas tenham aplicação universal, os casos individuais tornam-se muito importantes, pois uma ferramenta extremamente poderosa no pensamento filosófico é a habilidade de aplicar exemplos particulares que contradizem ou ao menos condicionam as asserções gerais. De um ponto de vista lógico, as asserções universais (por exemplo, "Todo X é Y") são extremamente vulneráveis à refutação, pois é preciso apenas um exemplo contrário para refutá-las ("Eis um X que não é Y"). É precisamente dessa vulnerabilidade que os contraexemplos tiram partido.

Talvez a mais famosa citação na filosofia seja a frase de Descartes "Penso, logo existo". À primeira vista, parece tratar-se de um trecho de raciocínio tão incontestável quanto se pode imaginar. Todavia, alguns argumentaram que o argumento de Descartes é falho porque assume como ponto pacífico algo que necessita ser demonstrado. Como pode ser isso? Argumentar por petição de princípio é, de alguma maneira, assumir em seu argumento precisamente aquilo que você está tentando provar por meio dele. Um exemplo flagrante seria o de alguém que pretendesse mostrar que bater numa criança é errado porque a violência contra crianças é errada:
l. A violência contra crianças é errada.
2. Bater é violência contra crianças. [suposição]
3. Logo, bater é errado.
Este argumento evita a questão, porque assume como certo algo crucial que é tema de controvérsia. Alguém que pensa que bater é às vezes permissível provavelmente não verá isso como uma forma de violência, ao menos não em todos os casos. Simplesmente assumir que bater é uma forma de violência, então, dificilmente produzirá um argumento convincente. É o tipo de argumento que só convence aqueles que já estavam convencidos.

A linguagem dominou a filosofia durante o século XX. Questões sobre verdade, conhecimento, ética, a mente e praticamente tudo o mais foram abordadas via filosofia da linguagem. Se você queria entender o que era a consciência, por exemplo, precisava entender o que significa a palavra "consciência". E, para fazê-lo, tinha de entender em que consiste, para qualquer palavra, significar algo. A "virada linguística", como foi chamada esta ênfase na linguagem, é hoje vista com certa ambivalência. Muitos consideram que se atribuiu à linguagem um papel demasiadamente central na filosofia e que isso é, no mínimo, um obstáculo ao progresso tanto quanto um auxílio. Qualquer que seja o julgamento que façamos sobre a virada linguística, o fato é que ela deixou para a filosofia contemporânea um legado que não pode ser descartado. Uma parte fundamental dessa herança é a distinção entre sintaxe e semântica. Consideremos, primeiramente, a linguagem natural, comparando estas duas sentenças: 

O ódio amarelo chutou o algoritmo malvado. 

Meu velho doente cachorro ser posto para dormir tem de. 

Em ambos os casos, há algo de errado. Mas o que está errado em cada uma das sentenças é muito diferente. A primeira sentença é, gramaticalmente, uma sentença perfeitamente bem formada. Mas o que ela significa? Provavelmente, nada. Os algoritmos não podem ser malvados, e não podem ser chutados pelo ódio, que tampouco pode ser amarelo. A segunda sentença, por outro lado, é gramaticalmente mal formada, mas podemos ver que ela provavelmente significa: Meu velho cachorro doente tem de ser posto para dormir. As regras da linguagem infringidas em cada um dos casos são, portanto, muito diferentes. Enquanto a primeira sentença não comunica significado (a gramática é perfeita, mas há carência de sentido), a segunda é mal formada (o significado pode ser discernido, mas a construção é defeituosa). Para classificar essas diferenças, podemos dizer que a sintaxe de "O ódio amarelo chutou o algoritmo malvado" é correta, mas a semântica não, ou é confusa: o problema é semântico. Do mesmo modo, a sintaxe de "Meu velho doente cachorro ser posto para dormir tem de" está errada, mas a semântica pode ser discernida: aqui, o problema é sintático. Em suma, a sintaxe diz respeito às regras que governam a disposição correta de palavras e sentenças na linguagem, enquanto a semântica refere-se ao significado. Às vezes, os filósofos referem-se às dimensões sintática e semântica da linguagem como suas dimensões formal e material, respectivamente. Por isso os filósofos muitas vezes falam de lógica "formal". Não é por estarem interessados em trajes finos! 

A moderna filosofia da linguagem, concorda-se amplamente, teve seu início com Gottlob Frege (1848-1925). Frege legou à filosofia urna distinção entre "sentido" e "referência" que, cem anos depois, ainda é usada, discutida e debatida. O ponto básico da distinção pode ser ilustrado com um exemplo de Frege. Considerem-se os dois nomes: "a estrela da manhã" e "a estrela da tarde". Por acaso, a estrela da manhã e a estrela da tarde são o mesmo corpo celestial (o planeta Vênus). Neste caso, temos dois nomes com dois sentidos diferentes, mas a mesma referência. Eles têm a mesma referência porque se referem ao mesmo objeto. Mas têm sentidos diferentes porque o que se entende por um e por outro não é a mesma coisa: por "estrela da manhã", podemos entender um corpo refletor que aparece num ponto específico do céu pela manhã, por "estrela da tarde", um corpo que aparece num ponto específico do céu à tarde. Pode-se até não ter conhecimento de que se trata do mesmo objeto. Frege estende suas concepções para que se apliquem não somente aos nomes, mas também a sentenças inteiras. Ele argumenta que as sentenças declarativas (aquelas que afirmam que é o caso que urna determinada coisa ocorre) devem ser consideradas como nomes, e, por conseguinte, devem ter um sentido e uma referência assim como os nomes.
Até aqui, tudo bem. Mas o leitor deve ser alertado de que praticamente nada disso se desdobra da forma como se esperaria. Em primeiro lugar, pode-se ter a tentação de pensar que o sentido é de algum modo subjetivo, especialmente porque Frege afirma que o pensamento expresso numa sentença é o seu sentido, e não a sua referência. Portanto, o sentido é, de certo modo, igualado ao pensamento, que pode parecer subjetivo. Mas Frege não pensa que os pensamentos, neste sentido, sejam subjetivos. Com efeito, é o pensamento que muitas vezes se quer comunicar por meio da linguagem e que Frege pensa que pode ser comunicado pela linguagem. Mas a linguagem não é subjetiva. Logo, os pensamentos e o sentido, definitivamente, não são subjetivos. A parte mais complicada da teoria de Frege, porém, é o que ele entende como sendo a referência das sentenças. A noção de referência parece perfeitamente clara no caso dos nomes: a estrela da manhã é aquela, poderíamos dizer, apontando para a estrela. Mas e quanto à referência de uma sentença como "Jirnmy Jones faz a pior pizza de Charlottesville"? Simplesmente não é possível apontar para a referência disso. Frege diz que a referência de tal asserção é o conjunto de circunstâncias que a tornam verdadeira. Frege chama isto de valor de verdade. Mas há apenas dois valores de verdade: verdadeiro e falso. Portanto -e aqui está a conclusão surpreendente -, as sentenças tem apenas duas referências: o Verdadeiro e o Falso. A referência de todas as sentenças verdadeiras é o verdadeiro, e a referência de todas as sentenças falsas é o Falso. De certo modo, a distinção entre sentido e referência pode parecer uma ferramenta útil para ajudar a distinguir dois aspectos de palavras e sentenças. Mas no contexto da filosofia mais ampla de Frege é, na realidade, parte de urna metafísica muito singular. Portanto, como dizemos com frequência, use esta ferramenta com cautela, pois, se tentar ir longe demais com ela, poderá se comprometer com uma concepção muito específica da verdade com a qual pode não querer ser onerado.

Qualquer um que se dedicar à filosofia por certo período de tempo encontrará ao menos uma pessoa que considere toda a ideia de filosofia desnorteante. Com muita frequência, esse embaraço se deve ao impulso da filosofia de explicar tudo. Às vezes, os filósofos parecem crianças que não param de perguntar: "Por quê? Por quê? Por quê?" Não filósofos exasperados provavelmente dirão algo como: "Nem tudo pode ser explicado", surpresos com o fato de que você não tenha conhecimento dessa verdade básica a respeito do universo.
É importante enxergar a verdade contida neste ponto de vista, mas é também importante entender o modo como uma concepção apropriada da busca filosófica de explicações acomoda essa verdade. Pode-se fazer isso considerando um princípio muito simples apresentado por Leibniz - o princípio de razão suficiente: "não há nenhum fato verdadeiro ou existente, e nenhuma proposição verdadeira, sem que haja uma razão suficiente para a sua existência tal como é, embora possamos não conhecer essas razões na maior parte dos casos" (Monadologia, 32). Ou, numa formulação um pouco mais pretensiosa, segundo Schopenhauer: "Nihil est sine ratione cur potius sit quam non sit" (Nada existe sem uma razão que explique por que existe em vez de não existir). Este princípio apreende sucintamente a atitude filosófica no que concerne à explicação. Alude também a uma questão básica, capaz de nos surpreender de tempos em tempos, que motivou grande parte da filosofia. Por que, afinal, há algo além do nada? Às vezes, o próprio fato de que qualquer coisa exista parece espantoso, e parece ser preciso que haja uma razão para isso. Ademais, o princípio, propriamente entendido, contém também a resposta ao crítico que pensa que os filósofos tentam explicar coisas demais. Vale enfocar a última cláusula da formulação de Lebniz: "embora possamos não conhecer essas razões na maior parte dos casos". Leibniz admite que muitas vezes não sabemos quais são essas razões, mas isso não significa dizer que não há razões. Por exemplo, no milênio anterior à teoria geral da relatividade de Albert Einstein, as pessoas não tinham ideia - ou tinham ideias errôneas - de por que a gravidade atraía os objetos para a Terra. Contudo, os cientistas e filósofos pré-einsteinianos acreditavam, acertadamente, que havia alguma razão pela qual a gravidade atuava. Desse modo, pode-se admitir que há razões para que o mundo seja como é, admitindo-se ao mesmo tempo que não se possuem indícios de quais sejam essas razões.
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) delineou quatro categorias de razão suficiente no mundo. Note-se que é possível que tenhamos pleno conhecimento das razões suficientes de uma categoria mas não o tenhamos de outra.


2. Razão suficiente para conhecer;


3. Razão suficiente para ser;


4. Razão suficiente para agir.


Razões e causas 

Seja a lista de Schopenhauer completa ou não, o princípio geral estabelece, em resumo, que tudo sempre tem de ter uma razão. Isso não é forçosamente o mesmo que dizer que sempre há de haver uma causa (equívoco que Schopenhauer acusa Spinoza de ter cometido). Há um extenso debate sobre quais tipos de razões não são, em última análise, explicáveis em termos de causas. Para nossos propósitos aqui, todavia, devemos apenas observar que o princípio de razão suficiente não pressupõe, em absoluto, que todas as explicações serão explicações causais. Isso torna o princípio mais forte, uma vez que deixa em aberto o tipo de explicação que poderia contar como razão suficiente e, por conseguinte, não se compromete com nenhuma visão particular de como deveriam ser as explicações últimas.

A priori/a posteriori 

Quando aprendi geometria na escola, lembro-me de uma ocasião em que fiquei intrigado com a afirmação de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é sempre 180 graus. Por um momento, o que me preocupava era que eu não conseguia entender como se podia ter certeza disso. Não seria possível que alguém, algum dia, encontrasse um triângulo, medisse seus ângulos internos e descobrisse que a soma chegava apenas a 179 graus ou a exorbitantes 182 graus? O que eu ainda não havia entendido era que a afirmação de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é de 180 graus é uma afirmação a priori. Isso significa dizer, segundo muitos filósofos, que se pode saber que a afirmação é verdadeira independentemente de (ou previamente a) experiências particulares. Eu pensava na geometria como se fosse um ramo de conhecimento a posteriori, no qual só sabemos se algo é verdadeiro ou falso por referência a experiências passadas relevantes.

O conhecimento a priori 

Por que os enunciados da geometria são considerados como dados a priori? A razão é que os objetos da geometria -triângulos, quadrados, e assim por diante - não são, em certo sentido, objetos do "mundo real". Um triângulo no mundo real nunca é um triângulo perfeitamente geométrico, embora possa assemelhar-se a este o suficiente para que 0 tratemos como se fosse. Para começo de conversa, vivemos num mundo tridimensional, enquanto formas como triângulos e quadrados são puramente bidimensionais. Em virtude disso, as propriedades dos triângulos em geral podem ser conhecidas sem nenhuma referência a experiências particulares no mundo, tais como medições de triângulos particulares. Não é preciso que examinemos triângulos reais; só precisamos pensar sobre o que faz que algo seja um triângulo, e, dadas as definições usadas, suas propriedades podem ser derivadas simplesmente pela razão. (Pode ocorrer, porém, como argumenta Kant, que saibamos isso sobre os triângulos, assim como outras partes de conhecimentos a priori, porque temos a capacidade da experiência em geral.)

Analítico/sintético 

Como ocorre com muitos conceitos filosóficos, a distinção analítico/ sintético parece, à primeira vista, muito transparente, mas se torna mais e mais intricada, até que por fim indagamos se tem de fato alguma utilidade. A distinção foi introduzida por Immanuel Kant. Um juízo analítico, na terminologia de Kant, é um juízo que não acrescenta nada àquilo que já está incluído no conceito. É com frequência definido corno a relação entre o sujeito (aquilo de que fala a sentença) e o predicado (o que é dito sobre aquilo de que fala a sentença). Por exemplo, na sentença "A neve é branca'', "neve" é o sujeito e "branca" é o predicado. Um juízo analítico, portanto, pode ser formulado corno uma sentença na qual o significado do predicado está inteiramente contido no sujeito. Assim, o juízo simplesmente desdobra ou analisa o sujeito para produzir o predicado. Por exemplo:
1. Todos os solteiros são homens não casados.
2. Todos os celeiros são edificações.
Em ambos os casos, os predicados (homens não casados e edificações) já estão "presentes" nos sujeitos (solteiros e celeiros). Nos termos de Kant, os juízos como um todo não vão além do que já está contido nos conceitos que são os sujeitos dos juízos (solteiros e celeiros). Esse tipo de análise também pode ser formulada na forma de argumentos. Por exemplo, se eu penso que Carlos é solteiro e então concluo que ele não é casado, produzi um juízo analítico, pois, ao dizer que ele não é casado, não disse nada que já não estivesse contido na informação de que ele é solteiro. Se, contudo, penso que certo líquido é água, e concluo que esse líquido entra em ebulição à temperatura de 100 ºC, estou produzindo um juízo sintético, pois não há nada na simples informação de que certo líquido é água que possa me dizer qual seu ponto de ebulição. (Leibniz, pelo contrário, sustentava que todos os juízos verdadeiros sobre as coisas são analíticos, pois um conceito completo de uma coisa conteria todas as suas propriedades.) O juízo acerca do ponto de ebulição da água vai além do que está contido no conceito da água, enquanto o juízo que afirma que um solteiro não é casado não vai além do que já está contido no conceito de solteiro. Em outras palavras, o predicado acrescenta algo ao sujeito. Por conseguinte, as seguintes asserções são sintéticas:
1. O tempo de vida médio dos escoceses solteiros é de 70 anos.
2. O celeiro do haras de Hugo é branco.

Necessário/suficiente 

O que significa ser uma pessoa? Quando tenho conhecimento e não uma mera opinião ou crença? Estas são duas questões capitais na filosofia. As respostas oferecidas com frequência estabelecem quais as condições necessárias e suficientes para ser uma pessoa ou para se ter conhecimento, ou seja, aquilo que basta para que algo se dê, e aquilo que é indispensável para que algo se dê. Podemos ver as diferenças e as relações entre ambos por meio de alguns exemplos cotidianos. Ser um cidadão do Reino Unido é uma condição necessária para se tomar o primeiro-ministro, mas não é suficiente. É preciso que o primeiro-ministro seja um cidadão do Reino Unido, mas se esta condição for satisfeita haverá ainda outras condições que precisam ser satisfeitas para ocupar o posto, entre elas vencer certo número de eleições. Investir uma enorme quantia de dinheiro no país e não ter registro criminal são condições suficientes para obter o green card nos Estados Unidos, mas não são condições necessárias, pois há outras maneiras de obter o green card, tais como ser casado com um cidadão norte-americano ou ter certas habilidades extremamente importantes para o governo.
As condições podem ser singulares ou plurais, e algumas condições podem ser concomitantemente necessárias e suficientes. Ter a composição H2 O é uma condição necessária e suficiente para que algo seja água. Algo tem de ser H20 para que seja água, e, se não for nada.além de H20 isso será suficiente para que uma substância seja água - não há outras condições. Mas para que algo seja gelo a fórmula de sua molécula tem de ser H20 e esta substância tem de estar a menos de O ºC em condições atmosféricas normais, ou o equivalente a isso. Estas duas condições -a estrutura molecular e a temperatura -formam o conjunto de condições necessárias e suficientes para que algo seja gelo.
Especificar conjuntos de condições necessárias e suficientes é um método filosófico comum para definir um conceito. Por exemplo, sugeriuse que as condições necessárias e suficientes para "saber que X" são: (1) que a pessoa acredite que X, (2) que a pessoa esteja justificada em sua crença, e (3) que X seja verdade. Para ter conhecimento, são necessários todos os três componentes. Por conseguinte, cada condição separadamente é uma condição necessária;juntas, no entanto, elas formam as condições suficientes para o conhecimento. Este grupo de três, portanto, compreende as condições necessárias e suficientes para "saber que" algo se dá. Na identidade pessoal, há várias concepções concorrentes do conjunto de condições necessárias e suficientes para que uma pessoa seja, em momentos diferentes, a mesma pessoa, e não outra. Alguns afirmam que uma forma de continuidade psicológica é necessária e suficiente. Segundo esta visão, enquanto perdurarem, em certo grau, a memória, as crenças e a personalidade, a pessoa continuará a existir. Outros argumentam que isto é necessário, mas não suficiente, já que também é preciso ser fisicamente contínuo: a menos que o corpo (ou ao menos o cérebro) continue a existir, nenhum grau de continuidade psicológica será suficiente para que a pessoa subsista. O conjunto de condições necessárias e suficientes para a identidade pessoal inclui, portanto, a continuidade física e psicológica. Outros, porém, afirmam que somente a continuidade física é necessária e suficiente.
Entretanto, alguns filósofos rejeitariam todo o modelo de condições necessárias e suficientes, ao menos para algumas áreas de investigação. Wittgenstein considerava que não havia sentido em buscar condições necessárias e suficientes para que algo seja, por exemplo, um jogo. Muitas coisas são jogos, e aquilo que elas têm em comum não pode ser especificado por um conjunto de condições, mas é, antes, um tipo de "similaridade familiar". As regras que governam a aplicação correta do uso de qualquer palavra, incluindo conceitos corno "conhecimento" ou "pessoa", não podem ser encaixadas no modelo restrito das condições necessárias e suficientes. Em vez disso, temos de nos apoiar no julgamento e na observação de como as palavras são usadas para determinar se alguém tem conhecimento genuíno ou se é a mesma pessoa ao longo do tempo.

Objetivo/subjetivo 

As provas podem ser a desgraça da vida de um estudante, mas a maior parte das pessoas as aceita porque oferecem a possibilidade de uma avaliação objetiva do próprio  empenho, enquanto a visão subjetiva acerca desse pode ser um tanto distorcida. Fazemos distinções como esta o tempo todo. Dizemos que uma matéria de jornal é objetiva ou, se o ponto de vista do repórter é muito proeminente, que é muito subjetiva. Dizemos que o gosto é subjetivo, mas que a medição do nível de poluentes na atmosfera é objetivo. Mas será que compreendemos claramente a distinção entre objetivo e subjetivo?
Quando um julgamento ou um ponto de vista baseia-se inteiramente na perspectiva particular de um indivíduo sobre o mundo, com frequência o qualificamos como "subjetivo". Ao fazê-lo, assinalamos que suspeitamos que o julgamento é parcial, que provavelmente não leva em consideração todos os fatos, ou que não vai além do ponto de vista pessoal. Quando, porém, um julgamento leva em consideração todos os dados relevantes, a despeito dos interesses pessoais, e encontra respaldo em outras pessoas competentes e informadas, dizemos que é um julgamento objetivo. Assinalamos assim que o julgamento é imparcial, fundado em fatos e vai além do que é meramente pessoal. O subjetivo é, portanto, aquilo que pertence ao sujeito (individual), à consciência ou à mente, enquanto o objetivo é aquilo que está além ou que é independente do sujeito (individual).

Realista/não realista

Em 1628, William Harvey inventou a circulação sanguínea.
Na escola, muitas crianças, num momento ou em outro, cometeram um erro como este. Ao abarrotarmos suas cabeças com informações sobre quem descobriu isto ou inventou aquilo, tudo se confunde e as descobertas e as invenções se embaralham. Nossos pequenos alunos tropeçaram, no entanto, num importante erro filosófico. Quando examinamos uma grande área do conhecimento humano, da ciência à política, à ética e à estética, quanto é descoberto e quanto é inventado? A ética é a tentativa de descobrir o que é o bem, assim como Harvey descobriu a funcionamento do coração? Ou seria a tentativa de construir um sistema moral, assim como Stephenson projetou e construiu a primeira locomotiva a vapor?

Variedades do realismo 

Um realista filosófico é alguém' que acredita que a busca do conhecimento consiste essencialmente em descobertas. Mais especificamente, isso significa acreditar que há fatos sobre o mundo exterior que se dão independentemente de que os descubramos ou não. Essa atitude realista geral se manifesta ao longo de todo o leque de tópicos filosóficos. O realismo ontológico é a visão segundo a qual os objetos físicos existem independentemente de nossas mentes. O realismo epistemológico é visão segundo a qual as coisas são verdadeiras ou falsas independentemente do fato de sabermos ou acreditarmos que são verdadeiras. O realismo moral é visão segundo a qual os atos são moralmente certos ou errados independentemente de nosso julgamento acerca disso. O realismo estético sustenta que a beleza é uma propriedade real das obras de arte, que é descoberta pelo observador que a discerne. O realismo metafísico é a visão segundo a qual o que é real existe tal como é, independentemente dos sujeitos que o experimentam. O realismo é frequentemente descrito como a posição do "senso comum", mas, neste caso, o senso comum pode ser muito diferente. Certamente, o senso comum concordaria em que os objetos físicos existem, quer os percebamos ou não, mas o senso comum pode não ser realista quando se trata de arte e moral, por exemplo. No caso da arte, é provável que mais pessoas concordem que a beleza está nos olhos do observador, e não que acreditem que a beleza é urna propriedade efetiva das obras de arte em si.

Variedades de não realismo 

Há muitas formas de ser um não realista que significa afirmar que se pode acreditar que há muitas coisas positivas que são compatíveis com a negação de que a verdade ou a falsidade dos enunciados envolve o fato de representarem ou espelharem urna realidade independente (realismo epistemológico), ou com a negação de que aquilo que é real é independente de sua relação com os sujeitos que o experimentam (realismo metafísico). Na ontologia, a principal posição não realista é o idealismo - a visão segundo a qual os objetos são, em sua essência, imateriais e não existiriam se não existisse a mente ou o espírito. Na epistemologia, podese ser um relativista, argumentando que o que é verdade e o que é falso sempre dependem de urna perspectiva histórica, social ou individual. Na ética, pode-se ser um subjetivista, e argumentar que os julgamentos do que é certo ou errado não passam de expressões de aprovação ou reprovação pessoal. Na estética, pode-se argumentar que os julgamentos acerca do que é belo nas obras de arte são meras expressões de gosto pessoal. Em todas estas áreas da filosofia, há muitas outras formas de ser não realista.

O que são conceitos?

Conceitos são os constituintes dos pensamentos. Os conceitos são os blocos de construção dos pensamentos. Consequentemente, são cruciais para processos psicológicos como categorização, inferência, memória, aprendizado e tomada de decisão.  Consequentemente, eles são cruciais para processos psicológicos como categorização, inferência, memória, aprendizado e tomada de decisão. Isso é relativamente incontroverso. Mas a natureza dos conceitos - o tipo de coisas que os conceitos são - e as restrições que governam uma teoria de conceitos têm sido objeto de muitos debates. Isso se deve, pelo menos em parte, ao fato de que as disputas sobre conceitos frequentemente refletem abordagens profundamente opostas ao estudo da mente, à linguagem e até mesmo à própria filosofia. 
De uma maneira ou de outra, todas as teorias sobre a estrutura dos conceitos são desenvolvimentos ou reações à teoria clássica dos conceitosDe acordo com a teoria clássica, um conceito lexical C tem estrutura de definição, pois é composto de conceitos mais simples que expressam condições necessárias e suficientes para se enquadrar em C.
Um bom exemplo é o conceito de SOLTEIRO, que é tradicionalmente considerado como tendo os constituintes NÃO CASADO e HOMEM. Se o exemplo é tomado pelo valor de face, a ideia é que algo se enquadra no SOLTEIRO se for um homem solteiro e somente se for um homem solteiro. De acordo com a teoria clássica, os conceitos lexicais geralmente exibem esse mesmo tipo de estrutura de definição. Isso inclui conceitos filosoficamente interessantes como VERDADE, BEM-ESTAR, LIBERDADE E JUSTIÇA.
Grande parte de seu apelo vem do modo como oferece tratamentos unificados de aquisição de conceito, categorização e determinação de referência. Em cada caso, o trabalho crucial está sendo realizado pelos mesmos componentes. A aquisição de conceito pode ser entendida como um processo no qual novos conceitos complexos são criados reunindo seus constituintes de definição. A categorização pode ser entendida como um processo psicológico no qual um conceito complexo é correspondido a um item de destino, verificando se todos e cada um de seus constituintes de definição se aplicam ao destino. E a determinação de referência, como já vimos, é uma questão de saber se os constituintes de definição se aplicam ao alvo.
Somente essas considerações seriam suficientes para mostrar por que a teoria clássica foi mantida em tão alta consideração. Mas a teoria clássica recebe mais motivação por sua conexão com um método filosófico que remonta à antiguidade e continua a exercer sua influência sobre o pensamento contemporâneo. Este é o método de análise conceitualAs análises conceituais paradigmáticas oferecem definições de conceitos que devem ser testados contra possíveis contra-exemplos identificados por meio de experimentos mentais. A análise conceitual deve ser uma atividade distintamente a priori que muitos consideram a essência da filosofia. Na medida em que as análises conceituais paradigmáticas estão disponíveis e são bem-sucedidas, isso dará suporte à teoria clássica. Por outro lado, se as definições não estiverem lá para serem descobertas, isso colocaria em risco uma visão venerável do que é a filosofia e como as investigações filosóficas devem prosseguir.

Conceitos como habilidades

Enquanto a visão das habilidades é mantida por um grupo diverso de filósofos, a razão mais proeminente para adotar a visão é um profundo ceticismo sobre a existência e utilidade das representações mentais, o ceticismo que remonta a Ludwig Wittgenstein (1953/1958). Um dos argumentos mais influentes ao longo destas linhas afirma que as representações mentais são explicitamente ociosas porque elas reintroduzem os tipos de problemas que devem explicar. Por exemplo, Michael Dummett adverte contra a tentativa de explicar o conhecimento de uma primeira língua sobre o modelo de conhecimento de uma segunda língua. No caso de uma segunda língua, é razoável supor que a compreensão da linguagem envolve traduzir suas palavras e sentenças em palavras e frases da primeira língua. Mas, segundo Dummett, não se pode traduzir palavras e sentenças da primeira língua para uma linguagem mental prévia. “Não há realmente nenhum sentido em falar de um conceito vindo à mente de alguém. Tudo o que podemos pensar é alguma imagem que vem à mente e que de alguma forma representa o conceito, e isso não nos leva adiante, já que ainda temos que nos perguntar em que consiste associar esse conceito a essa imagem ”(Dummett, 1993). , p. 98). Em outras palavras, a representação mental em si é apenas outro item cuja importância é explicativa. Ou estamos envolvidos em um regresso vicioso, tendo que invocar ainda outra camada de representação (e assim por diante indefinidamente) ou podemos também parar com a linguagem externa e explicar sua importância diretamente. (Para uma discussão crítica desse tipo de argumento de regressão, ver Fodor 1975, Crane 1995, Laurence & Margolis 1997).
Não surpreendentemente, os críticos da visão de habilidades argumentam na outra direção. Eles notam dificuldades que a visão de habilidades herda por sua rejeição de representações mentais. Uma é que a visão está mal equipada para explicar a produtividade do pensamento; outra é que pode dizer pouco sobre processos mentais. E se os proponentes da visão de habilidades permanecerem neutros quanto à existência de representações mentais, eles se abrirão para a crítica de que a explicação dessas habilidades é melhor dada em termos de representações e processos mentais subjacentes (ver Fodor, 1968 e Chomsky, 1980 para discussão geral). tradição anti-intelectualista na filosofia da mente).

Conceitos como sentidos fregeanos

Filósofos que tomam conceitos para serem sentidos enfatizam particularmente essa característica dos sentidos. Christopher Peacocke, por exemplo, localiza o assunto de uma teoria de conceitos da seguinte forma: “Conceitos C e D são distintos se e somente se há dois conteúdos proposicionais completos que diferem no máximo em que um contém C substituído em um ou mais lugares para D, e um dos quais é potencialmente informativo enquanto o outro não é ”(Peacocke 1992, p. 2). Em outras palavras, C e D incorporam diferentes modos de apresentação. (Veja a entrada Frege para a discussão da distinção sentido / referência e para mais sobre as funções explicativas associadas aos sentidos. Para evitar a confusão terminológica, devemos notar que o próprio Frege não usou o termo "conceito" para sentidos, mas sim para o sentido Semelhantemente, vale a pena notar que Frege usa o termo "pensamento" para representar proposições, então, para Frege, os pensamentos não são estados psicológicos.)
A visão de que os conceitos são sentidos fregeanos, como a visão de habilidades, é geralmente realizada por filósofos que se opõem à identificação de conceitos com representações mentais. O próprio Peacocke não vai tão longe a ponto de argumentar que as representações mentais são explicitamente ociosas, mas ele acha que as representações mentais são muito refinadas para propósitos filosóficos. “É possível que um mesmo conceito receba diferentes representações mentais em diferentes indivíduos” (Peacocke 1992, p. 3). Ele também está preocupado que a identificação de conceitos com representações mentais exclua a possibilidade de haver conceitos que os seres humanos nunca tenham entretido ou que nunca puderam ter.
Se aceitarmos que a posse de um conceito por um pensador deve ser realizada por algum estado subpessoal envolvendo uma representação mental, por que não dizer simplesmente que o conceito é a representação mental? Apenas esta proposta é feita por Margolis e Laurence (1999, 77). As representações mentais que são conceitos podem até ser digitadas pela condição de posse correspondente do tipo que eu prefiro. Isso me parece uma noção inteiramente legítima de um tipo de representação mental; mas não é bem a noção de um conceito. Pode, por exemplo, ser verdade que existem conceitos que os seres humanos nunca podem adquirir, por causa de suas limitações intelectuais, ou porque o sol se expandirá para erradicar a vida humana antes que os humanos alcancem um estágio no qual possam adquirir esses conceitos. "Há conceitos que nunca serão adquiridos" não podem significar ou implicar "Existem representações mentais que não são representações mentais na mente de ninguém". Se conceitos são individualizados por suas condições de posse, por outro lado, não há problema sobre a existência de conceitos que nunca serão adquiridos. Eles são simplesmente conceitos cujas condições de posse nunca serão satisfeitas por quaisquer pensadores. (Peacocke, 2005, p. 169).

Conceitos como representações mentais

A primeira dessas visões sustenta que os conceitos são entidades psicológicas, tomando como ponto de partida a teoria representacional da mente (RTM). Segundo a RTM, o pensamento ocorre em um sistema interno de representação. Crenças, desejos e outras atitudes proposicionais entram nos processos mentais como símbolos internos. Por exemplo, Sue pode acreditar que Dave é mais alto que Cathy, e também acredita que Cathy é mais alta que Ben, e juntos eles podem fazer com que Sue acredite que Dave é mais alto que Ben. Suas crenças seriam constituídas por representações mentais sobre Dave, Cathy e Ben e suas respectivas alturas. O que torna essas crenças, em oposição a desejos ou outros estados psicológicos, é que os símbolos têm o papel funcional-causal característico das crenças. (RTM é geralmente apresentado como tendo crenças e outras atitudes proposicionais como relações entre um agente e uma representação mental (por exemplo, Fodor 1987). Mas, dado que a relação em questão é uma questão de ter uma representação com um tipo particular de função funcional Na mente, é mais simples dizer que as crenças ocorrentes são apenas representações mentais com um tipo característico de função funcional.
Muitos defensores do RTM tomam as representações mentais envolvidas em crenças e outras atitudes proposicionais para ter estrutura interna. Assim, as representações que figuram nas crenças de Sue seriam compostas de representações mais básicas. Para os teóricos que adotam a visão de representação mental dos conceitos, os conceitos são identificados com essas representações mais básicas.
Os primeiros defensores do RTM (por exemplo, Locke (1690/1975) e Hume (1739/1978)) chamavam essas idéias de representações mais básicas e as consideravam imagens mentais. Mas as versões modernas do RTM assumem que muito pensamento não é fundamentado em imagens mentais. O tratamento clássico contemporâneo mantém, em vez disso, que o sistema interno de representação tem uma sintaxe semelhante à linguagem e uma semântica composicional. De acordo com essa visão, muito do pensamento é fundamentado em representações mentais parecidas com palavras. Essa visão é frequentemente referida como a linguagem da hipótese do pensamento (Fodor, 1975). No entanto, a analogia com a linguagem não é perfeita; obviamente, o sistema interno de símbolos deve carecer de muitas das propriedades associadas a uma linguagem natural. No entanto, como uma linguagem natural, as fórmulas do sistema interno são consideradas como forma de assunto / predicado e incluem dispositivos lógicos, como quantificadores e variáveis. Além disso, supõe-se que o conteúdo de um símbolo complexo seja uma função de sua estrutura sintática e do conteúdo de seus constituintes. Voltando às crenças de Sue, a suposição é que elas são compostas de símbolos como DAVE, CATHY e TALLER e que suas crenças representam o que elas fazem em virtude do conteúdo desses símbolos e como eles são organizados.
A visão de representação mental dos conceitos é a posição padrão na ciência cognitiva (Pinker, 1994) e goza de amplo apoio na filosofia da mente, particularmente entre os filósofos que vêem seu trabalho alinhado com a pesquisa em ciência cognitiva (por exemplo, Carruthers 2000, Millikan 2000). , Fodor 2003, Harman 1987, Margolis & Laurence 2007). [1] Defensores dessa visão defendem isso com base em motivos explicativos. Eles sustentam que conceitos e representações mentais estruturadas desempenham um papel crucial na contabilização da produtividade do pensamento (isto é, o fato de que os seres humanos podem ter um número ilimitado de pensamentos), explicando como os processos mentais podem ser tanto racionais quanto implementados no cérebro. e em acomodar a necessidade de processos mentais sensíveis à estrutura (Fodor, 1987; ver também a linguagem de entrada da hipótese do pensamento).
De acordo com a visão de habilidades, é errado sustentar que conceitos são particulares mentais - conceitos não são imagens mentais nem entidades semelhantes a palavras em uma linguagem de pensamento. Pelo contrário, os conceitos são habilidades que são peculiares aos agentes cognitivos (por exemplo, Dummett 1993, Bennett & Hacker 2008, Kenny 2010). O conceito CAT, por exemplo, pode significar a capacidade de discriminar gatos de não-gatos e de tirar certas inferências sobre gatos.
A visão de que os conceitos são sentidos fregeanos identifica conceitos com objetos abstratos, em oposição a objetos mentais e estados mentais (por exemplo, Peacocke 1992, Zalta 2001). Dizem que os conceitos são os constituintes das proposições. Para os proponentes dessa visão, conceitos mediam entre pensamento e linguagem, de um lado, e referentes, de outro. Uma expressão sem um referente (“Pegasus”) não precisa faltar um significado, uma vez que ainda tem um sentido. Da mesma forma, o mesmo referente pode ser associado a diferentes expressões (por exemplo, "Eric Blair" e "George Orwell"), porque elas transmitem diferentes sentidos. Os sentidos são mais discriminativos que os referentes. Cada sentido tem uma perspectiva única sobre seu referente - um modo único de apresentação. Diferenças no conteúdo cognitivo remontam a diferenças nos modos de apresentação. É por essa razão que o pensamento de que George Orwell é Eric Blair não tem a trivialidade do pensamento de que George Orwell é George Orwell. 

Verdade





     A palavra verdade pode ter vários significados, desde “ser o caso”, “estar de acordo com os fatos ou a realidade”, ou ainda ser fiel às origens ou a um padrão. Usos mais antigos abrangiam o sentido de fidelidade, constância ou sinceridade em atos, palavras e caráter. Assim, "a verdade" pode significar o que é real ou possivelmente real dentro de um sistema de valores. Esta qualificação implica o imaginário, a realidade e a ficção, questões centrais tanto em antropologia cultural, artes, filosofia e a própria razão. Como não há um consenso entre filósofos e acadêmicos, várias teorias e visões a cerca da verdade existem e continuam sendo debatidas.

Filosofia e a verdade


Tipos de verdade
  • Verdade material é a adequação entre o que é e o que é dito.
  • Verdade formal é a validade de uma conclusão à qual se chega seguindo as regras de inferência a partir de postulados e axiomas aceitos.
  • É uma verdade analítica a frase na qual o predicado está contido no sujeito. Por exemplo: "Todos os porcos são mamíferos".3
  • É uma verdade sintética a frase na qual o predicado não está contido no sujeito.4
  • Sofisma é todo tipo de discurso que se baseia num antecedente falso tentando chegar a uma conclusão lógica válida.

O portador de verdade


     O primeiro problema para os filósofos é estabelecer que tipo de coisa é verdadeira ou falsa, qual o portador da verdade (em inglês truth-bearer). Depois há o problema de se explicar o que torna verdadeiro ou falso o portador da verdade. Há teorias robustas que tratam a verdade como uma propriedade. E há teorias deflacionárias, para as quais a verdade é apenas uma ferramenta conveniente da nossa linguagem. Desenvolvimentos da lógica formal trazem alguma luz sobre o modo como nos ocupamos da verdade nas linguagens naturais e em linguagens formais.
     Para Nietzsche, por exemplo, a verdade é um ponto de vista. Ele não define nem aceita definição da verdade, porque não se pode alcançar uma certeza sobre a definição do oposto da mentira. Daí seu texto "como filosofar com o martelo".1Para a filosofia de René Descartes, a certeza é o critério da verdade.
    Quem concorda sinceramente com uma frase está se comprometendo com a verdade da frase. A filosofia estuda a verdade de diversas maneiras. A metafísica se ocupa da natureza da verdade. A lógica se ocupa da preservação da verdade. A epistemologia se ocupa do conhecimento da verdade.
  Há ainda o problema epistemológico do conhecimento da verdade. O modo como sabemos que estamos com dor de dente é diferente do modo como sabemos que o livro está sobre a mesa. A dor de dente é subjetiva, talvez determinada pela introspecção. O fato do livro estar sobre a mesa é objetivo, determinado pela percepção, por observações que podem ser partilhadas com outras pessoas, por raciocínios e cálculos. Há ainda a distinção entre verdades relativas à posição de alguém e verdades absolutas.
Os filósofos analíticos apontam que a visão relativista é facilmente refutável.
A refutação do relativismo, segundo Tomás de Aquino, baseia-se no fato de que é difícil para alguém declarar o relativismo sem se colocar fora ou acima da declaração. Isso acontece porque, se uma pessoa declara que "todas as verdades são relativas", aparece a dúvida se essa afirmação é ou não é relativa. Se a declaração não é relativa, então, ela se auto-refuta pois é uma verdade sobre relativismo que não é relativa. Se a declaração não é relativa, conclui-se que a declaração "todas as verdades são relativas" é uma declaração falsa.
   Por outro lado, se todas as verdades são relativas, incluindo a afirmação de que "todas as verdades são relativas", então, o interlocutor não é obrigado a crer na afirmação. Ele é livre para acreditar, inclusive, que "todas as verdades são absolutas"
   Alguns filósofos chamam qualquer entidade, aquilo de que podemos dizer que é verdadeiro ou falso, de portador da verdade. Assim, portadores da verdade podem ser pessoas ou coisas, sentenças assertivas, proposições ou crenças.2
   A verdade é uma interpretação mental da realidade transmitida pelos sentidos, confirmada por outros seres humanos com cérebros normais e despidos de preconceitos (desejo de crer que algo seja verdade), e confirmada por equações matemáticas e linguísticas formando um modelo capaz de prever acontecimentos futuros diante das mesmas coordenadas.
   A teoria correspondentista da verdade é encontrada no aristotelismo (incluindo o tomismo). De acordo com essa concepção, a verdade é a adequação entre aquilo que se dá na realidade e aquilo que se dá na mente.
   A verdade como correspondência foi definida por Aristóteles no tratado Da Interpretação, no qual ele analisa a formação das frases suscetíveis de serem verdadeiras ou falsas. Uma frase é verdadeira quando diz que o que é é, ou que o que não é não é. Uma frase é falsa quando diz que o que é não é, ou que o que não é é.
   O problema dessa concepção é entender o que significa correspondência. É um tipo de semelhança entre o que é e o que é dito? Mas, que tipo de semelhança pode haver entre as palavras e as coisas?
   O método científico, por exemplo, estabelece procedimentos para se realizar essa correspondência. Nesse caso um juízo de verdade V é então legitimado, de forma tal que a comunidade de cientistas (que partilham entre si conhecimento e experiências) aceita/certifica como verdadeira a proposição P, oriunda da correspondência realizada entre P(V) e a "realidade empírica", via método científico.
   O conceito de verdade como correspondência é o mais antigo e divulgado. Pressuposto por muitas das escolas pré-socráticas, foi pela primeira vez, explicitamente formulado por Platão com a definição do discurso verdadeiro, no diálogo Crátilo: "Verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são; falso é aquele que as diz como não são." (Crtas.,385b;v.Sof.,262 e; Fil.,37c). Por sua vez Aristóteles dizia: "Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não é, é a verdade." (Met.,IV,7,1011b 26 e segs.;v.V,29.1024b 25).
   Aristóteles enunciava também os dois teoremas fundamentais deste conceito da verdade. O primeiro é que a verdade está no pensamento ou na linguagem, não no ser ou na coisa (Met.,VI,4,1027 b 25). O segundo é que a medida da verdade é o ser ou a coisa, não o pensamento ou o discurso: de modo que uma coisa não é branca porque se afirma com verdade que é assim; mas se afirma com verdade que é assim, porque ela é branca. (Met., IX, 10,1051 b 5).
    A lógica se preocupa com os padrões de razão que podem nos ajudar a dizer se uma proposição é verdadeira ou não. No entanto, a lógica não lida com a verdade no sentido absoluto, como a metafísica. Os lógicos usam linguagem formal para expressar as verdades. Assim só existe verdade em alguma interpretação lógica ou dentro de algum sistema lógico. Uma verdade lógica (também chamada verdade analítica ou verdade necessária) é uma afirmação que é verdadeira em todos os mundos possíveis5 ou segundo todas as possíveis interpretações, em contraste com um fato (também chamado proposição sintética ou uma contingência) que só é verdadeiro neste mundo, tal como se desenvolveu historicamente. Uma proposição, como "Se p e q, então p", é considerada uma verdade lógica por causa do significado dos símbolos e palavras que a constituem e não por causa de qualquer fato de qualquer mundo particular. Verdades lógicas são tais que não poderiam ser falsas.


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